Dia desses vi aqui na cidade de Campinas, manifestações onde diversos participantes reivindicavam o cancelamento da mudança efetuada pelo NOVO ENSINO MÉDIO. E já houve em Sorocaba, no Tocantins e outras cidades do Brasil.
Os manifestantes cobram a revogação do Novo Ensino Médio, modelo que já está em vigor em todo o Brasil e altera a grade curricular e carga horária dos últimos três anos da educação básica, além de oferecer disciplinas optativas em substituição a disciplinas anteriormente obrigatórias.
A reclamação mais constante, é a de que “tira a oportunidade de alunos de escolas públicas, de concorrerem em melhores condições, ou condições de igualdade nas universidades”.
Tanto fizeram que, após tanto tempo de estudo, a medida está momentaneamente cancelada, até que novos estudos sejam feitos.
Não vou entrar no mérito dessas reivindicações, porque acho que tem algo mais grave e que não foi citado até agora, e esse é o objetivo deste artigo.
Uma coisa importante de se lembrar, era a quantidade de reclamações dos interessados, dizendo que aprendiam coisas desnecessárias ou com pouca ênfase naquilo que escolheriam na época dos vestibulares.
Quem iria prestar na área de Ciências queria mais ênfase nas áreas de ciências e biologia.
Quem iria prestar para área de Exatas, não queria perder tempo estudando ciências e biologia, mas queria mais ênfase em cálculo e matemática.
Pois bem, o novo ensino médio, dentro de sua proposta, atenderia a esses desejos, por tantos anos manifestados.
Portanto, haveria de se escolher os itinerários formativos entre Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; Linguagens e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e Matemática e suas Tecnologias ainda no primeiro ano de ensino médio.
Em tese, desejo atendido.
Vejam o que diz o texto que foi por enquanto suspenso:
“A intenção é promover a autonomia, a responsabilidade, a participação e a atuação dos jovens como agentes do seu próprio destino e de transformações positivas no mundo.”
“Para que o protagonismo estudantil aconteça na prática, faz-se necessário escutar as opiniões, ideias e sugestões das juventudes; permitir que façam escolhas a partir de seus interesses e necessidades; valorizar sua coautoria em projetos e práticas pedagógicas e criar condições para que se corresponsabilizem por seu próprio processo de aprendizado, por colaborar com seus pares e contribuir com ações e decisões tomadas pela escola,”
“… o Ensino Médio deve se orientar pelo projeto de vida dos estudantes. Significa dizer
que essa etapa da Educação Básica tem a missão de contribuir para que os
jovens reflitam sobre si mesmos, identifiquem suas aspirações nos âmbitos
pessoal, profissional e social, transformem sonhos em objetivos e planos
concretos e desenvolvam as competências necessárias para implementá-los.”
“Nesse caso, espera-se que as escolas sejam capazes de realizar um trabalho
pedagógico intencional e estruturado, com vistas a apoiar estudantes a se
conectarem com seus propósitos, dar sentido à sua existência, tomarem decisões balizadas, planejarem o futuro e agirem no presente com autonomia e responsabilidade.”
Infelizmente fizeram a coisa sem se preocupar com a imaturidade e o desconhecimento, por parte dos alunos, de seus talentos e motivadores pessoais.
Esse é o problema que eu acho mais gritante e que não vejo como o Estado e nem as Escolas estejam prestando a devida atenção.
Não há como se fazer escolhas corretas, se corresponsabilizar pelo processo de aprendizado futuro, não há como identificar com precisão suas aspirações sociais, profissionais e pessoais sem que haja autoconhecimento.
Se você não reconhece o que te movimenta e quais os seus reais talentos, não tem maturidade para decidir um caminho certeiro, que indique maiores chances de sucesso na escolha de uma carreira. Consequentemente, a chance de escolher errado, e logo no começo dos estudos, é muito grande.
Não há vento que ajude para quem não sabe para onde vai.
Vamos exemplificar:
Aqui na Antares já atendemos a muitos jovens, que nos procuram em busca de uma orientação profissional, baseado em seu comportamento e motivadores.
Nessa tenra idade de 15 ou 16 anos, o que ele pensa é trazido de seu repertório familiar, experiências, amizades e educação, mas desconhecem totalmente o seu próprio potencial em termos de escolha de carreira.
Alguns chegam aqui em dúvida se irão prestar vestibular para medicina ou direito.
São caminhos absolutamente divergentes.
Na nossa experiência, as carreiras são melhor definidas quando escolhidas, utilizando-se como base, as forças impulsionadoras ou motivadores, do que pelo próprio mapa comportamental. O primeiro, dirá onde haverá mais prazer em se fazer o que será escolhido e o segundo, qual a tendência de como será executado no dia a dia.
Uma pessoa com um motivador social ou altruísta, terá maiores possibilidades de êxito, de se sentir completo em sua profissão, se estiver ligado a tarefas de ajuda às pessoas, fazer o bem, tirar a dor, promover o bem-estar. Tente colocá-lo numa tarefa administrativa, de comercialização de produtos diversos, não voltados ao bem-estar, num trabalho competitivo e unicamente em busca de lucratividade, que haverá uma grande possibilidade dos resultados serem bem frustrantes e estressantes.
Anteriormente a escolha era feita no final do terceiro ano do ensino médio, aos 16 ou 17 anos. A quantidade de alunos perdidos ou buscando caminhos através de testes vocacionais, ou ainda via análise das profissões do futuro ou de maior rentabilidade era muito grande.
A probabilidade de muitos desses alunos começarem e pararem uma ou mais faculdades era imensa.
A justificativa, “não me encontrei no curso”.
E é óbvio que não se encontre, em algo que seus motivadores e comportamento não sejam coerentes com a atividade escolhida e as matérias de estudos.
Atualmente ainda se perde tempo e dinheiro.
Hoje, a situação tende a piorar, pois essa decisão vai passar para o primeiro ano do ensino médio, através da escolha de matérias eletivas, para fortalecer o conhecimento na área de estudos escolhida. Escolhida como? Com 14 ou 15 anos, é ainda mais complicado pela falta de conhecimento e maturidade.
E nesse ponto, o que as escolas e o estado estão oferecendo para ajudar nessa escolha?
O que os manifestantes estão solicitando para cobrir essa importante lacuna?
De nada adianta requisitar aulas de sociologia ou filosofia, se o próprio estudante não tem conhecimento mínimo sobre si mesmo e sobre as escolhas que podem afetar seu futuro.
Mas há como se definir com maior precisão esses caminhos?
Sim, aos 14 anos as características de personalidade, de comportamentos e os atributos de julgamento dos adolescentes já estão mais sólidos.
Nesse momento já é possível mapear os comportamentos e motivadores, com um bom percentual de assertividade, possibilitando se indicar caminhos de futuras profissões e consequente de itinerários formativos.
Importantíssimo lembrar que não se trata de teste vocacional, pois teste, pressupõe respostas corretas, mas na realidade caminhos apontados pelas respostas baseadas na realidade interna e experiências pessoais de cada indivíduo.
Infelizmente a saída para esse impasse do novo ensino médio terá que ser equacionada pelos próprios estudantes e especialmente os pais desses jovens, através de respostas que busquem responder a essas dúvidas.
Ficamos à disposição para tirarmos dúvidas a respeito.
Fale conosco.
Maurício Duarte
Antares Talentos