Este texto teve início em uma conversa com a minha parceira de trabalho, Profa. Erica Moreira, ao comentarmos as questões enfrentadas nessa nossa nova fase de vida em quarentena.
A aventura do home office e as reuniões virtuais.
É certo que a quarentena e a utilização de meios de comunicação eletrônicos, mudarão as nossas relações com o trabalho daqui para frente.
Como bons brasileiros, gostamos do calor humano, dos encontros, da comunicação cara a cara, de observarmos o ambiente e tirarmos dele informações necessárias as nossas tomadas de decisão.
Infelizmente o tal de COVID-19 acelerou de uma hora para a outra a utilização de vídeo conferências, reuniões com tempo delimitado, e a expansão de utilização de ferramentas que embora soubéssemos que existiam, não cogitamos em trocar pelos contatos pessoais com a intensidade com a qual estamos fazendo agora.
Só que existe nisso uma armadilha que muita gente ainda não percebeu.
Muitos de nós, não tem preparo para lidar com essas novas ferramentas.
É um engano terrível imaginar que iremos interagir com elas da mesma forma como fazemos em um encontro pessoal.
Em primeiro lugar há de se obedecer a regras de convívio com essas salas virtuais. O programador da reunião tem o poder do microfone na mão. Isso pode ser uma vantagem ou desvantagem, dependendo do perfil de quem está participando.
Sabe aquelas pessoas que não deixam o outro concluir a ideia e já sai rebatendo em cima da fala de quem está usando a palavra? Que beleza, isso dá um jeito bem democrático nessa situação, que pessoalmente é impossível de se fazer. É necessário se escutar, antes de se rebater e isso é bem produtivo, a meu ver.
Um problema que precisa ser resolvido, caso se queira uma reunião produtiva é se dar tempo para que o participante conclua a sua ideia. Mais um ponto a favor, pois tem participantes que se perdem em seu discurso e muitas vezes se tornam redundantes, explicando algo que já foi dito e esticando a sua fala de forma desnecessária, quando há mais gente para se manifestar esperando a sua vez. Isso faz com que as pessoas pensem para programar a sua fala e concluir dentro de um tempo determinado.
Precisa ser rígido assim? Depende. Em três, quatro ou até seis participantes talvez não, mas já estou ouvindo falar em sessões com 30, 60 e ate 120 participantes. Aí já acho exagero.
Quer algo mais subjetivo? As tomadas de imagem. Pelos modos democráticos de se participar de reuniões remotas, as pessoas podem usar celulares, notebooks e PC´s com câmeras. Cada um deles dá uma proporção e aproximação diferentes de cada participante e aí vem um problema. Perdemos visão do todo. Não sabemos como estão se comportando as mãos, se estão apertadas ou relaxadas. Se as pernas estão se debatendo em sinal de impaciência, enquanto o rosto permanece impassível na tomada fechada da tela.
Lembrem-se de que o corpo fala e muitas vezes perdemos a reação corporal de nosso interlocutor, que ao vivo, seria um sinal para mudarmos o nosso discurso baseado no que enxergamos como um todo. Não perceberemos os dedos batendo sobre a mesa mostrando impaciência ou as mesmas cruzadas e crispadas em sinal de desaprovação.
É nesse ponto onde a frase da amiga Erica entra em ação. Ao se observar esses sinais de que algo não está indo bem pelos sinais corporais, ao vivo remenda-se.
Outro ponto importante que se tem que levar em consideração é a adequação do vocabulário.
Tem coisas que podem funcionar ao vivo, mas nem tanto no virtual.
Não sei se vocês já viram uma brincadeira que se chama de bingo corporativo. As pessoas ficam marcando quais as palavras da moda ditas no mundo dos negócios. Vai de mudar o mindset, a empatia jogada de todas formas e usos dos mais inadequados e terminando com o famigerado alinhamento.
Juro que não aguento mais ouvir em reuniões o famoso “precisamos alinhar” qualquer coisa.
Parece que não temos mais a capacidade de combinar, acertar, determinar, cobrar e se justificar mais nada, tudo tem que ser alinhado.
Quando escuto isso, me passa a ideia de algo muito vago, tão vago quanto “a gente precisa ver isso”.
Ver o que, quem, quando onde e onde?
Por fim, creio que o ajuste de vocabulário tenha que ser adequado aos demais membros da reunião.
Lembrem-se de que estamos em ambientes de negócios, onde cada um tem seus gostos, preferências, crenças e limitações. Temos que pensar nisso quando entramos numa sala virtual e acima de tudo tomarmos cuidado com o que dissermos.
Quer dizer que vamos perder a nossa naturalidade numa reunião virtual?
Não, porque naturalidade não se liga diretamente ao vocabulário. Afinal temos sinônimos para a maioria das coisas que possamos falar e isso não é perda de naturalidade, mas sim adaptação ao meio em busca de atingirmos objetivos.
Poderemos dar maior valor a reunião virtual do que a presencial?
Também acho que não. Apesar de mais custosa e demorada, podemos tirar muito mais informações numa visita pessoal ao observarmos o ambiente e conversarmos com outras pessoas, além daquela com quem iremos objetivamente nos reunir. Essas informações colhidas, desde a ambientação, aos comentários paralelos e observação dos gestos e posturas das pessoas, nos alimentam de coisas impossíveis de serem tiradas numa reunião virtual.
Outro ponto importante de nos lembrarmos é que em um meio virtual a assertividade da comunicação tem que ser precisa, seja pela questão de tempo como de objetivo. Uma palavra mal usada e não percebida pode nos trazer sérios problemas sem que tenhamos depois nenhuma ideia do que foi que deu errado.
Tentar nos colocamos ainda mais na posição de quem está ouvindo passa a ser ainda mais importante do que numa reunião pessoal.
Mais uma vez recorrendo as frases da professora Erica, “temos que aprimorar as habilidades de comunicação no mundo virtual, pois a ausência física cria a necessidade de se refinar a comunicação”.
Então para encerrar, vamos nos lembrar que daqui para frente, por termos aprendido a trabalhar mesmo que de forma forçada com reuniões virtuais, por estarmos vendo que elas podem sim ter resultados positivos, por estarmos experimentando que elas nos poupam tempo de deslocamento e gastos com combustíveis, estacionamentos e pedágios, iremos dar maior valor a esse meio daqui para frente.
Mesmo quando a situação voltar a uma certa normalidade.
Porém, temos que nos policiar e definirmos metas a alcançarmos, seja em termos éticos, de tempo e de resultados quando formos nos utilizar desse expediente.
Mais um ensinamento que o vírus vem nos trazer e que ao voltarmos ao mundo real, esperamos que nos transforme numa sociedade cada vez melhor.
Até a próxima.
Maurício Duarte