Em tempos bicudos de COVID 19, a disponibilidade de tempo me faz ficar lendo com mais atenção as postagens e as mensagens recebidas pelas mídias sociais, analisando como nem todas as pessoas reclamam das mesmas coisas.
Em tese somos todos diferentes, mas em muitas coisas temos similaridades que são demonstradas nessas manifestações. Normalmente o teor das reclamações refletem uma pequena nuance de uma ou mais dimensão das quatro que todos nós temos.
É interessante notar que se as pessoas realmente se reconhecessem, muitas dessas reclamações seriam expressas de maneira diferente. Ou melhor ainda, o reclamante já teria tomado alguma atitude para que ela fosse mitigada o máximo possível.
Obviamente que uma resposta adequada só pode ser dada com um Relatório Completo de Perfil Comportamental, onde se descrevam as quatro dimensões e suas inter-relações. Somente o relatório nos permite acessar um diagnóstico preciso de cada pessoa, baseado na intensidade de cada dimensão.
Mas de forma básica vamos apresentar as características de cada dimensão e ao mesmo tempo tentar traçar um paralelo entre o perfil e uma situação de quarentena, como a que estamos vivendo agora.
Vale ressaltar que podemos nos reconhecer em mais de um perfil. Isso é natural, pois somos uma soma das quatro. Mas, vamos focar somente nas mais dominantes e quais nos levam agir mais fortemente de um jeito ou de outro.
Vamos começar pela Alta Dominância ou alto D.
Uma pessoa de alta dominância costuma ser mais rápida, que busca soluções imediatas e certeiras. Que não gosta de esperar e acha que todas as outras pessoas deveriam ser rápidas como elas. São pessoas competitivas, gostam de desafios reais, tendem a ser mais raivosas e tem sempre pressa. Se aborrecem com muitos detalhes e relatos demorados, pois querem sempre uma solução rápida e prática.
Estas pessoas em quarentena, tendem a experimentar uma ansiedade acima da média. Como as coisas são novas, não havendo respostas práticas para os problemas apresentados, tendem a ficar nervosas e estressadas, pois querem resolver coisas que muitas vezes, neste momento, não tem resolução.
Muitas vezes são pessoas que tendem a se rebelar contra as normas emanadas, pois não partiram delas e um alto D gosta de ter o controle da situação, tendo as suas próprias conclusões.
Não admitem perder tempo e são aquelas que estão forçando para todos os lados a que outras pessoas tenham respostas práticas às suas questões de momento.
As pessoas de Baixa Dominância ou Baixo D por sua vez, são pessoas mais pacatas, que obedecem bem a hierarquia, que tem paciência antes de tentarem entrar numa resolução apressada. Tem mais foco e atacam o problema com mais calma.
Sua chance de administrarem melhor as pressões e aguardar as resoluções e respostas tendem a deixa-los mais relaxados e conviverem melhor com o tele trabalho.
Pessoas com Alta Influência ou Alto I.
Estas pessoas normalmente são extremamente sociáveis, falantes, efusivas, consideradas muito cordiais e solícitas. Se preocupam com o que os outros pensam dela e procuram ser sempre agradáveis. Dificilmente não se nota uma pessoa de alto I num ambiente. São normalmente pessoas otimistas, mais falantes e sorridentes. Mas há de se levar em consideração de que maior medo do alto I é ser rejeitado.
O problema dessas pessoas com o isolamento social tende a ser bastante grave. A falta de contato físico, o distanciamento leva essas pessoas a experimentar, mesmo sem ser verdade, o seu maior medo que é o sentimento de rejeição.
Elas podem ter uma tendência, em uma época como essa, de se manter conectada às redes sociais ou telefones pois estão em busca de contato e troca de informações. Em caso de home office isso pode ser um complicador, pois em tese, se trabalha isolada e as tarefas têm que ser cumpridas a tempo.
Outro ponto de cuidado com um alto I é que essas pessoas têm a tendência a perderem prazos, por se atrapalharem na gestão de tempo entre contatos e tarefas, e depois tentarem justificar o injustificável. Afinal o trabalho precisa ser feito.
Pessoas de Baixa Influência ou Baixo I talvez sejam algumas das que melhor passarão essa fase de quarentena.
Essas pessoas são mais quietas e recolhidas. Não tem grande necessidade de contato social e nem de ficar falando com outras pessoas. Na realidade o isolamento é meio que seu habitat natural. Estar em casa e de preferência mais isolado poderá ser a realização de um sonho.
Pessoas com Baixa Influência tem a tendência a serem mais críticas e muito sinceras. Não se importam muito se alguém gosta ou não muito delas. Numa dessas, expor as sinceridades numa época onde tem muita gente estressada pelo isolamento, pode ser um problema a ser resolvido depois que isso acabar. Isso será marcado na memória de quem pode ter se sentido incompreendido por certas observações nesse momento diferente da história.
Pessoas de Alta Estabilidade ou Alto S.
Estas pessoas têm pouca tolerância a mudanças, sejam elas bruscas ou não. São pessoas que exigem do outro muita explicação do porquê de algo ter que ser modificado, argumentos que justifiquem mudar aquilo que consideram estar ótimo, como está. Esse é justamente o maior medo de alguém de Alto S, mudanças.
São pessoas cuja expressão facial não nos permite perceber quais são os seus sentimentos. A cada frase que dizemos, elas buscam entender em que aquilo poderá tirá-la de sua zona de conforto e no que isso pode mudar as suas rotinas diárias, mantendo-se normalmente impassíveis.
Imagine em época de quarentena essas pessoas serem tiradas de seus ‘habitats naturais’ e enviadas para home office. Dúvidas sobre coisas que talvez nem aconteçam começam a vir a sua cabeça como e os documentos que elas costumam usar e que ficaram no escritório? Será que precisarei deles? E aqueles números de telefones que ela talvez possa usar? Por quanto tempo será que isso vai persistir? E se não resolver, por quanto tempo mais?
Isso pode ser motivo de perda de sono, mesmo que nada demais possa a vir acontecer. Isso não é a mesma coisa que a ansiedade a que todos estamos suscetíveis pelas mudanças da pandemia. Mesmo fora dessa situação, mudanças causam arrepios num Alto S.
Qual o risco para pessoas desse perfil?
Serem consideradas do contra, como se estivessem torcendo para não dar certo, o que não é verdade. Só estão preocupadas em não terem um bom desempenho pela mudança em si. Não esperem uma resposta rápida de alguém de Alto S, pois elas pensam muito nas consequências antes de se manifestarem. Da mesma forma, talvez elas necessitem de um tempo um pouco maior para se organizarem e colocarem as coisas de forma minimamente familiar para que tudo corra bem e tenham um desempenho esperado.
Pessoas de Baixa Estabilidade ou Baixo S, talvez sejam a segunda categoria que melhor vá se sair bem na quarentena.
Pessoas de Baixa Estabilidade adoram mudanças e o desafio de sair do escritório para um home office pode ser motivo de satisfação. É algo novo, inusitado, diferente. Afinal o maior medo de uma pessoa de Baixo S é a MONOTONIA. Fazer a mesma coisa, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas são condições tediosas para essas pessoas.
Quais os riscos de uma pessoa de baixo S?
Se perderem por causa dessas mudanças, pois tem uma forte tendência de enjoarem das coisas muito facilmente. Pessoas de baixo S tem uma tendência a começarem as coisas, mas não acabarem. Pode ser um livro, um curso, um programa de exercícios, uma dieta e porque não, o home office? A novidade me pouco tempo pode se transformar em algo chato e o desempenho pode cair.
Pessoas de Alta Conformidade ou Alto C.
As pessoas de Alta Conformidade tem necessidade de informações, normas e diretrizes a seguir. O maior medo de uma pessoa de alto C é errar, por isso quanto mais completa forem as diretrizes e instruções do que ela tem a fazer, melhor será seu desempenho, pois se cobram muito em termos de perfeição. A falta de normas claras durante um período de quarentena, o que não é difícil de acontecer pois muitos de nós estamos aprendendo a trabalhar dessa forma, levam essas pessoas a sofrerem um estresse forte. Afinal muitas de suas questões para fazerem um serviço correto em tempos de exceções, não encontram resposta e as vezes as questões podem ser tão inusitadas que resposta leva mais tempo.
O maior risco de um Alto C numa época de incertezas é ser considerado lento, ou lerdo, para iniciar algo novo.
A busca por informações seguras que o levem a ter um desempenho satisfatório pode fazer com que as respostas cheguem mais tarde do que está sendo esperado pelos gestores. São pessoas ávidas por informações e atualizações que os levem a ter um desempenho correto baseado em fatos e não em especulações.
Para encerrar, falaremos daqueles com Baixa Conformidade ou Baixo C.
Estas pessoas tendem a ser mais criativas, mais dinâmicas por não necessitarem de muitas informações para tomarem uma determinada atitude.
Isso é bom? Depende para quê.
Pessoas que dependam de saídas criativas podem se dar muito bem com esse perfil, desde que ela se lembre de pegar as informações mínimas que não as leve a cometer erros importantes.
Em época de ter diferenciais competitivos, pessoas de Baixo C podem pensar em coisas diferenciadas, assim como os baixos S, mas sempre deve haver na equipe com um C ao menos médio ou elevado para pensar nos detalhes e se preocupar com as evidências de que o plano pode dar certo.
Pessoas de Baixo C são mais instintivas e, às vezes, pulam determinados pontos importantes na criação de um conceito ou ideia.
Um dos riscos de uma pessoa desse tipo em Home Office é a de dar soluções “criativas”, mas sem lastro da empresa para problemas novos que tendem a aparecer. Isso pode ocasionar problemas com os gestores e a própria empresa por criarem precedentes que nem sempre podem ser cumpridas. Tudo isso pela falta de informações básicas ou autorizações necessárias para se resolver o problema como imaginado por ela.
Assim sendo, se chega a conclusão de que o autoconhecimento pode fazer com que a pessoa segure certos instintos e acima de tudo compreenda que existem outros perfis diferentes do dela e que tem medos, necessidades e tempos de ação diferentes para o mesmo problema.
Caso isso não seja compreendido, seu Home Office pode se transformar num Hells Office rapidinho.
Se a comunicação de forma pessoal as vezes causa problemas, imagine a distância com textos imperfeitos, compreensão de textos sofríveis, ansiedade exacerbada e mais a rotina do ambiente doméstico que muitas vezes não favorece a concentração. Pode ser a fórmula da tempestade perfeita.
Lembre-se de que precisamos estar conscientes que estamos numa época em que o trabalho tenha que ser colaborativo e não disruptivo.
Mas o importante é saber que isso tudo vai passar. Portanto use os seus talentos para o seu bem estar e daqueles que estão seu redor. Pessoal ou virtualmente.
Até a próxima.